Minha História Deixa Que Eu Conto, de Analize Nicolini, é uma obra autobiográfica que explora a relação entre alteridade, discriminação e diversidade, além das tensões entre o pessoal e o...
Minha História Deixa Que Eu Conto, de Analize Nicolini, é uma obra autobiográfica que explora a relação entre alteridade, discriminação e diversidade, além das tensões entre o pessoal e o coletivo. Essa dualidade se reflete na interação entre o reflexo (o que vemos) e o reflexivo (o que pensamos e sentimos sobre o que vemos). Utilizando vinil adesivo em espelhos de dimensões variadas, a obra apresenta a frase "Minha história deixa que eu conto", disposta em duas linhas. A escolha do espelho como suporte é crucial para a reflexão proposta, pois ele reflete tanto a imagem física quanto revela a influência social na construção da identidade.
A frase central da obra convida as pessoas, especialmente mulheres cis e trans, a reivindicarem a autoria de suas histórias pessoais e políticas, uma questão de grande relevância em contextos em que essas vozes são frequentemente silenciadas ou têm suas narrativas indevidamente apropriadas. Nesse sentido, a obra dialoga com o pensamento de Gloria Anzaldúa, em suas reflexões sobre identidade, resistência cultural e a importância de narrar a própria história, entendida como uma forma de sobrevivência e resistência, especialmente para aquelas vozes historicamente marginalizadas.
Além disso, Minha História Deixa Que Eu Conto também estabelece um diálogo com o discurso de Paul B. Preciado em Eu Sou o Monstro que Vos Fala, onde Preciado desafia as normas cis-heteronormativas e reivindica o direito de contar sua própria história como pessoa trans. Assim como Preciado, Nicolini propõe uma ruptura com as estruturas de poder que disciplinam identidades e corpos, convidando os espectadores a refletirem sobre as narrativas que lhes são impostas e a se apropriarem de suas próprias histórias como um ato de resistência.
Este trabalho cria, portanto, um percurso que encoraja os espectadores a confrontar suas próprias imagens e refletir sobre o significado do texto em suas vidas, inserindo-se num contexto mais amplo de práticas artísticas que questionam o papel da arte na transformação social e na construção de novas e urgentes narrativas.