“Eu gosto de xingar, trato como mídia.”
A partir da captura e compartilhamento de sons do cotidiano, a artista deixa seu subconsciente transbordar para a oralidade em um enunciado que evolui num crescendo até desvelar um ato imperativo. A intervenção sonora é um manifesto que não deixa espaço para um resultado que não seja a persuasão do espectador ou, ao menos, o impele a refletir sobre a urgência de novas ações para garantir a existência da vida e do planeta.
Era um domingo de manhã, eu teria uma reunião para tratar da feitura do meu portfólio. Sempre quis trabalhar com sons, sons do cotidiano, compartilhar som, capturar som. Ruídos, significados.
Eu gosto de xingar, trato como mídia. Livre, pronta pra receber, como um canvas.
Eu gosto de criar, fazer obras de arte, me faz sentir útil, servir pra alguma coisa, pra fazer alguma coisa pra melhorar essa existência. Esse mundo. Essa vida. Sempre querendo criar. Visões que vão se repetindo, elaboradas, refinadas, sonhadas. Saiu da casca.
Estava preparando um ovo. Abri a janela, coloquei o equipamento, nosso quase órgão tecnológico: ar, terra, água, fogo, fogão, geladeira, chuveiro, cama, cadeira, mesa, sofá, privada, janela, carro, condução, bicicleta, avião, navio, o colchão. Coração. Capitalismo. Contemporâneo.
Não era nada disso que estava passando na minha cabeça, ou era? Pode ser, povoa ali. Abri a janela, trouxe pra dentro. Comecei. Eu tinha assistido uma aula no YouTube na noite anterior do Yuval Noah Harari, ele fala dos 0,01% que entenderão. Estes eu quero. Lavagem cerebral ou uma pulga atrás da orelha?
Eu estava pensando na batata-doce. Primo Levi, vivemos o mesmo momento que você viveu, ainda podemos desbravar, deparar, frustrar, "humar" - virar humanos. Humar é o fazer humano. Esse que tem um novo órgão. Cabos, metais. Pobres animais. Brilho, estrela, fibra óptica. Fogo neles. Aqui todos nos lamberemos.
A vida não é só o agora, beleza? Aqui nos resta ser feliz. FDP. FDPS.